segunda-feira, 26 de janeiro de 2015

Beata Alexandrina da Costa una Sonrisa Celestial

O peruviano Padre Ángel Peña Benito, da Ordem dos Agostinianos Recolectos, tem em linha um livro sobre a Beata Alexandrina sob o título de Beata Alexandrina da Costa una Sonrisa Celestial. Pode-se ler aqui
O autor é um prolífico hagiógrafo. Depois da leitura, paga a pena prestar atenção à extensa bibliografia onde constam os nomes do Pe. Humberto, do Pe. Mariano Pinho, da D. Eugénia Signorile e da Maria Rita Scrimieri.

sábado, 24 de janeiro de 2015

É vítima da pureza, vítima do meu amor, vítima das almas!

Continuo a sentir duas coisas ao mesmo tempo: a perda de Jesus e a perda das almas. A perda de Jesus faz-me sentir tal horror e revolta que não se pode explicar. Quero amaldiçoar esta perda e amaldiçoar a terra. Parece que me atormentam todos os horrores do inferno. Sinto que era melhor perder tudo e tudo sofrer do que perder a Jesus. Só a Sua perda basta para ser o maior martírio do corpo e da alma.
- Meu Jesus, perder-Vos!...
E sobre esta grande dor cai o peso da Vossa justiça divina. Que tormento e dor sem igual!
E a perda das almas! Ai, quanto custa!
O meu coração corre atrás delas: que ternura e amor lhes dispensa!...
A alma com os seus olhares vê a sua fugida.
Que agonia! Não há amor que as prenda, não há palavras que as comovam, nem ouvidos que as escutem. Correm, correm para a perdição.
Oh, que dor a de Jesus! E que dor a minha, sentindo isto!...
Não posso consentir que as almas se percam.
Esta manhã, com a vinda de Jesus ao meu coração, levantaram-se em mim novas ânsias que deram princípio dum novo mundo dentro em meu coração.
É um edifício mundial a construir-se. As ânsias são de pureza e de amor; o edifício é levantado com isto. Que chamas ardentes, que fogo abrasador!
Esta pureza e este amor não são meus, não me pertencem, pertencem ao edifício, pertencem ao mundo.
Meu Deus, que ânsias consumidoras! Queria falar ao mundo inteiro, queria falar só em amor e pureza; só destas riquezas queria que ele vivesse.
Durante a tarde, senti-me no grande convívio, nuns grandes laços da mais estreita amizade.
De manhã, senti um novo mundo de amor.
Ao cair da tarde, a grande Ceia do Amor.
Amor, que grande ingratidão recebeu! Com esta ingratidão vi e senti a cruz atravessada em meu coração; era regada com o sangue que momento a momento jorrava dele, a cada respiração saía uma golfada de sangue.
Dolorosa quinta-feira, tão cheia de espinhos! A dor tirava-me a vida.
Já de noite, veio o demónio, maldoso como sempre. Figurou-se-me que, com os seus dentes, retalhava o meu corpo e punha em bocadinhos o terço e levava para longe a imagem da Mãezinha. Foram só as manhas dele: depois da luta, tudo tinha junto de mim. Que estrondo fazia o meu coração!
- Queres gozar? Oh, quanto vale o prazer!
Posso sossegar. Oh, como tu pecas!...
Quando ele bailava de satisfação, veio juntar-se ao gozo – que ele chama gozo – a dor a que só com um milagre de Jesus se pode resistir. Com muito custo chamei por Jesus, chamei muitas vezes a afirmar-Lhe sempre que não queria pecar. Os demónios com caras muito feias afirmavam o contrário. Veio Jesus e, à Sua voz divina, eles fugiram. Ele chamou:
- Anjo bendito, suaviza a dor da minha esposa, da minha vítima, da minha crucificada; leva-a ao seu lugar: é vítima da pureza, vítima do meu amor, vítima das almas!
Depressa tomei a minha posição, sem esforço, sem sentir dores.
Depressa vieram as nuvens negras, as dúvidas de ter ofendido gravemente a Jesus.
Sentimentos da Alma, 5 de Abril de 1945 – sexta-feira


sábado, 17 de janeiro de 2015

A propósito da Igreja do Matinho

Como se mandava reconstruir uma igreja

Os usos de hoje são os nossos, mas são muito diferentes dos de outros tempos. A Igreja do Matinho onde a Beata Alexandrina foi baptizada foi reconstruída na primeira metade do séc. XVIII. Primeiro, o comendador reconstruiu a capela-mor, certamente a sacristia e também a residência, depois os paroquianos reconstruíram de raiz o corpo principal da Igreja. Mas as decisões da reconstrução eram ordenadas pelo visitador. Como não se conservam os Livros dos Capítulos de Visita de Balasar, veja-se o que se passou na extinta paróquia de Santagões.
O Arcediago de Vermoim Rev. Veríssimo Ferreira Marques, em visita de 12 de Maio de 1755, deixou este capítulo:

Achei esta igreja em tão miserável estado que receei entrar dentro dela por estar ameaçando ruína, porque tem as paredes todas rachadas e arruinadas e esbuxadas para fora e o arco também arruinado que (palavra ilegível) compadeço de que possa suceder alguma ruína aos fregueses e pároco caindo e juntamente ameaçando os retábulos e causando-lhes mais dispêndios, pelo que mando que, até à futura visita, cuidem os fregueses de fazê-la a fundamentis, aproveitando-se do que puderem da velha, e a poderão alargar uma vara ou o que for preciso para a parte do sul, puxando o adro mais fora e seguindo para esta obra o parecer do Rev. Pároco, que os há-de aconselhar ao melhor, e, visto o fazerem-na de novo, seja ao moderno, com o arco mais levantado; e lhe deixo tudo o mais à sua disposição, que bem conheço que são zelosos, e para isso farão suas promessas conforme a possibilidade de cada um e, feitas elas, o Rev. Pároco procederá contra os que não quiserem na forma do modo de visita, o que não quero seja necessário do seu zelo.

A fundamentis quer dizer desde os alicerces.
É provável que houvesse algum exagero na descrição do estado da igreja e também é provável que, antes de escrever o capítulo, o arcediago tivesse sondado a disposição dos fregueses e do pároco para avançar com as obras de construírem uma igreja “ao moderno”. De resto estava-se em tempo de muitas construções.
Dois anos depois, em 12 de Agosto de 1757, o visitador regressou e ficou optimamente impressionado, a nova igreja estava “com toda a perfeição”:

Louvo muito ao Rev. Pároco o zelo com que encaminha os seus fregueses para o Céu, doutrinando-os e ensinando-lhes a doutrina, como também a (palavra ilegível) com que concorreu para a factura da nova igreja, que está com toda a perfeição, e não menos louvo aos seus fregueses a satisfação que deram aos capítulos passados, concorrendo para ela com as suas esmolas, que sendo poucos como são deve ser muito louvável.

A Abadessa de Vairão, como padroeira da paróquia, também foi chamada a renovar a capela-mor e a sacristia:

E se fará aviso pelo Rev. Pároco à Rev. Madre Abadessa de Vairão para que da mesma sorte mande concorrer para o que lhe pertencer do arco cruzeiro e fazer a sua capela-mor, que da mesma sorte necessita de reforma, como assim a sacristia.


A sacristia fora capitulada pelo Arcebispo Dom Veríssimo de Lencastre. Mas dessa vez a abadessa parece que não prestou muita atenção à recomendação.