sexta-feira, 27 de dezembro de 2013

O Pe. Mariano Pinho no III Congresso Eucarístico Arquidiocesano de Viana do Castelo, em 1929

No número de Julho e Agosto de 1929, o Mensageiro Eucarístico, que o P.e Abílio Gomes Correia fundara e dirigia, saiu um resumo da intervenção do P.e Mariano Pinho no III Congresso Eucarístico Arquidiocesano de Viana do Castelo, em 1929. O Pe. Pinho chegara em fins do ano anterior do seu exílio imposto pela República.
O tema desenvolvido foi “A Comunhão frequente e as Vocações”. Veja-se agora o resumo:
O Rev. Pe. Mariano Pinho, que a seguir usou da palavra, foi também obrigado a resumir o seu trabalho, pelo que distribuiu uma separata do Mensageiro sobre a tese.
O trabalho deste orador pode resumir-se no seguinte:

Introdução. 
Cristo na Eucaristia e na Comunhão é a solução de todas as dificuldades de ordem religiosa, moral e social. Daí a importância dos congressos eucarísticos: logo ao tratar-se das vocações tínhamos necessariamente que estudar este problema à luz da Eucaristia.

I.                   A Comunhão frequente prepara o terreno das vocações.
A.   O que é a vocação; breve apologia da mesma (palavra de Pio XI); Portugal e as vocações religiosas.
B.   A vocação pressupõe inocência, grande amor a Jesus Cristo, grande generosidade em amar a sua cruz.
C.   A Comunhão prepara as vocações:
a) fazendo germinar a inocência e desembaraçando a alma de todo o hábito de pecado mortal e venial (Decreto da Comunhão frequente III);
b) desprendendo apouco e pouco das coisas caducas;
c) despertando grande amor a Jesus e à sua Cruz.

II.                A Comunhão é o momento mais oportuno para escutar e corresponder ao chamamento divino.
A.   Pelos desejos que desperta em nós de nos parecermos com Jesus.
B.   Porque a vocação é da parte de Deus a melhor prova de que nos ama.
C.   Pelas ânsias que sente a alma de pagar amor com amor.
Se não há vocações é porque a vida eucarística não é o que deve ser.

III.             Organização prática da Comunhão frequente em vista da vocação ou a Cruzada Eucarística das Crianças (CEC).
Necessidade de uma conclusão bem prática neste assunto. A Cruzada Eucarística: o que ela é, como se organiza um CEC; transcendência da CEC não só no assuno das vocações, mas para o ressurgimento do fervor nas paróquias, para salvaguardar a juventude dos dois escolhos da irreligião e da imoralidade; a CEC, penhor seguro do ressurgimento da Pátria, porque “qui a l’enfant a l’avenir”.

De reparar que temas como o amor à Cruz, o valor da Eucaristia, etc., foram queridos da Beata Alexandrina.
O Mensageiro do Coração de Jesus, de Outubro, também publicou uma síntese da intervenção do Pe. Pinho.

O Pe. Mariano Pinho professor do Colégio Nun’Álvares

Originalmente o endereço da Cruzada, a revistinha criada pelo Pe. Mariano Pinho, era o Largo das Dores, na Póvoa, mas a partir de Janeiro de 1932, embora a administração passasse para o largo de Santa Teresa, em Braga, “tudo quanto diga respeito à Redacção deve ser enviado ao R. P. Mariano Pinho, Colégio da Imaculada, Caminha”.
Porquê Caminha? A explicação descobre-se na história do Instituto Nun’Álvares ou Colégio das Caldinhas, que se pode ler aqui. Os republicamos espanhóis não autorizavam mais o Colégio em La Guardia e foi preciso transferi-lo à pressa e provisoriamente para Caminha e o Pe. Pinho terá sido chamado para ensinar no improvisado Colégio da Imaculada.
Uma notícia saída no jornal poveiro Idea Nova de 18 de Novembro de 1933 chama ao Pe. Pinho "ilustrado e sábio professor do Colégio de Nuno Álvares das Caldas da Saúde".
A cultura de esquerda que insistentemente nos transmitem naturalmente desculpa aos republicanos espanhóis todos os seus exageros. Mas não era assim no tempo, por cá.
Em 23 de Outubro de 1931, sob o título de "Maus ventos por Espanha”, A Voz do Crente, a que o Pe. Pinho estava ligado, descrevia assim o que por lá se passava:
Uma onda demolidora, soprada pelo demagogismo truculento e pela verrina sectária se entumece pavorosa na vizinha Espanha, com prenúncios de ser aumentada ainda mais a procela satânica que ali está desencadeada e que fatalmente há-se arrastar a abismos hiantes. 
Os elementos avançados, dos mesmos que em Portugal arrancaram os crucifixos dos cemitérios e mataram inocentes religiosos que, olhos fitos no amor de Deus e da Pátria, nos legaram as lições mais profícuas e os exemplos mais salutares, dos mesmos que em Portugal, corifeus do mal e apóstolos da mentira, obrigaram as crianças das escolas a empunharem uma bandeira diabólica e sinistra, com esta lúgubre, revolucionária e antipatriótica inscrição – sem Deus e sem Religião – dos mesmos que me Portugal atiraram para o exílio os cidadãos mais prestantes e operosos, dos mesmos que em Portugal laicizaram as escolas e destruíram a família e o vínculo do matrimónio e ameaçaram a propriedade, nunca orientados por altos princípios nem respeitando direitos legítimos … os elementos avançados da vizinha Espanha estão a dar ao mundo civilizado o espectáculo mais repugnante, que a história chumbará em suas férreas páginas com o ferrete da repulsa mais veemente.
As Ordens Religiosas – os beneméritos da Caridade e os cultores das Ciências e os apostos da Moral – podem considerar-se suprimidas, com confisco brutal dos seus bens – para muitas imediatamente e para outras gradualmente – o indiscutível direito das congregações religiosas no exercício do ensino, onde contam astros de primacial grandeza, está petulantemente negado; o ensino religioso nas escolas, a única forças que pode deter o indivíduo na ladeira precipitada que o atira para a prática do crime, está igualmente suprimido, para ficarem as belezas da escola laica e obrigatória… 
Em cima, notícia sobre o P.e Mariano Pinho como professor do Colégio das Caldinhas, em baixo, fotografia de 1931 onde figura o mesmo Pe. Pinho (no extremo esquerdo).  

terça-feira, 24 de dezembro de 2013

Santo Natal!

A todos os leitores deste blogue, enviamos votos de um Santo e Feliz Natal.
José Ferreira

segunda-feira, 16 de dezembro de 2013

Idas do Pe. Mariano Pinho a Balasar segundo os noticiários do Pe. Leopoldino Mateus


O Pe. Mariano Pinho não foi a Balasar só as vezes que o Pe. Leopoldino noticiou nos jornais, mas é bom sabermos que há registo de uma parte significativa delas. E pelas notícias deste jornalista também se vê como ele foi um grande homem da Igreja.

A primeira ida a Balasar

A primeira ida do Pe. Mariano Pinho a Balasar, em 16 de Agosto de 1933, está muito bem documentada. Regista-a a Cruzada, regista-a um livro de actas do cartório paroquial e regista-a ainda uma notícia do jornal A Propaganda, além Autobiografia.

Veja-se a notícia n’A Propaganda, de 3 de Setembro:

Realizou-se nesta importante freguesia do nosso concelho uma grandiosa festividade em honra do Sagrado Coração de Jesus, precedida de um tríduo de práticas pelo Rev. Pe. Mariano Pinho, apostolado orador sagrado.

A pregação do ilustre orador foi tão frutuosa que toda a população da freguesia, com poucas excepções, se abaixou (sic) à Mesa Eucarística, recebendo o Pão dos Anjos, administrado pelo novo pároco, Rev.do Pe. Leopoldino Mateus, que foi incansável na organização e direcção desta solenidade. À Mesa Santa curvaram-se criaturas que já há alguns anos não davam preceito às Igrejas [sic], o que muito alegrou o coração do nosso pároco.

Na mesma ocasião, a pedido e esforço do nosso Rev. Pároco, foi fundada pelo Director Diocesano, Rev.do P.e Pinho, a Obra das Cruzadas Eucarísticas, inscrevendo-se 70 [segundo a Cruzada] crianças de ambos os sexos, devidamente uniformizadas. O pregadorfez uma preparação especial às criancinhas, ensinando-lhes cânticos explicando-lhes os fins da Obra das Cruzadas.

A festa concluiu com uma linda procissão eucarística em que tomaram parte as confrarias da freguesia com os seus estandartes, cruzados eucarísticos entoando lindos hinos a Jesus Sacramentado, passando por caminhos tapetados de verdes e por entre alas compactas de povo desta freguesia e das circunvizinhas.

Recolhida a procissão, todas as crianças da cruzada, devidamente vestidas com os seus uniformes, tiraram com o Rev.o Pároco uma fotografia nas escadas do Calvário, encarregando-se deste serviço um hábil amador.

Merecem parabéns pelo bom êxito da festa e da Obra das Cruzadas o Rev.do pároco, Leopoldino Mateus, a distinta professora oficial, Sra. D. Maria da Conceição Leite Reis Proença, e mais algumas zeladoras que foram incansáveis na sua organização. Foi uma festa que muito devia agradar ao SS. Coração de Jesus e santificar os fiéis desta laboriosa freguesia.

Estiveram nesta freguesia os Rev.os Arcipreste António Gomes Ferreira, Manuel de Amorim, P. .José Cascão e Pe. António Flores, dessa vila, que vieram coadjuvar o nosso Rev. Pároco no serviço de tríduo.

De visita ao nosso Rev. Abade, esteve entre nós o Rev. Dr. Mariano Pino S.J., residente em Braga. 16/5/36 - Idea Nova

 
As outras idas

No último domingo de Agosto realiza-se com brilho a festa do Sagrado Coração de Jesus, que será precedida de um tríduo de práticas, estando encarregado da pregação o Rev. Dr. Mariano Pinho, apostólico orador sagrado. 15/8/36 - Idea Nova

Verificou-se, ontem, nesta freguesia a festa do Menino Deus, sendo muito concorrida tanto a comunhão geral como a missa da festa. De tarde, pregou o Rev. Dr. Mariano Pinho, que falou às criancinhas da Cruzada Eucarística, fez admissão dos novos cruzados e a despedida dos grandes. Foi uma cerimónia triste e enternecedora a despedida de alguns cruzados, que choraram ao deixar o seu uniforme que tanto estimavam. Foram admitidas algumas vice-zeladoras que ouviram recomendações muito práticas do Rev. Director Diocesano, que se vem interessando muito pela conservação e progresso desta Cruzada. 9/1/37 - Idea Nova

Em 16/1/37, diz-se que o sermão do Pe. Pinho foi “muito apreciado”.

Na penúltima semana verificou-se pela primeira vez, na casa da família Matos, nesta freguesia, o retiro espiritual fechado, em que tomaram parte algumas dezenas de raparigas desta e das freguesias circunvizinhas. Foi conferente o Rev. Manuel Pinho S.J. (certamente erro tipográfico por Mariano Pinho). É de esperar copiosos frutos desta obra de regeneração espiritual. Na véspera da conclusão, houve, de noite, hora de adoração ao SS. Sacramento, em que pregou o nosso pároco, Rev. Leopoldino Mateus, sendo os cânticos acompanhados a harmónio pelo Rev. Pinho. É coisa muito nova, que causa sensação nas nossas aldeias, desconhecidas dos exercícios espirituais. Parabéns à comissão promotora, particularmente à família Campos Matos, que teve a parte principal na direcção e realização desta obra. 26/1/39 - A Voz da Póvoa

No próximo domingo, verifica-se a reunião mensal da Cruzada Eucarística, havendo de manhã missa e comunhão das crianças e à tarde terço, sermão pelo Rev. Mariano Pinho S.J. e cânticos. 9/2/39 A Voz da Póvoa

A informação seguinte saiu em fins de Fevereiro ou princípios de Março n’A Propaganda, mas  fala do começo do ano, pelo que se refere sem dúvida ao que fora noticiado  em fins de Janeiro n’A Voz da Póvoa.

Entrámos no novo ano e realmente para o povo religiosos e temente a Deus desta freguesia coisas novas se vêm realizando para a sua renovação espiritual. Logo na entrada do ano se verificou o tríduo da Acção Católica, promovido pela J.A.C. Durante o decurso das conferências, o auditório era mais de homens do que de mulheres e na comunhão geral da Festa do Menino Deus abeiraram-se da Mesa Eucarística mais pessoas do sexo masculino do que do sexo feminino. Ora isto não é novo?

Concluída a festa da Acção Católica, a J.A.C., dirigida pelo nosso estimado pároco, promoveu na casa Família Campos Matos, no Telo, um retiro espiritual, sendo conferente o Rev. Dr. Mariano Pinho, S.J. Neste retiro tomaram parte 30 raparigas, quase todas da Juventude Católica Agrária, desta e doutras freguesias. É de esperar abundantes frutos espirituais. Os rapazes, ao saberem da realização dos exercícios espirituais para as jovens, perguntavam: - E para nós não há retiro? Não somos filhos de Deus?

Ora isto não é novo para o povo das nossas aldeias? Quando entre nós se falou de Acção católica e exercícios espirituais para o povo? Eis a obra da J.A.C. Se os pais querem ter filhos bons e patriotas, amigos de Deus, da Pátria e da Família, devem filiá-los na J.A.C., o braço direito dos párocos. 2 ou 3/39 – A Propaganda

No próximo domingo verifica-se a festividade do Sagrado Coração de Jesus, promovida pelo Apostolado da Oração. Será precedida de um tríduo de práticas pelo Rev. missionário apostólico Mariano Pinho S.J.

O programa da solenidade é o seguinte: às 6 hora, missa, prática e comunhão geral; às 11, missa solene; às 16, exposição eucarística e sermão, seguida de procissão.

No largo fronteiro à igreja será dada a bênção pública, precedida de coro falado em que tomarão parte as crianças da Cruzada Eucarística das freguesias de Arcos, Rio Mau, Rates, Macieira, Negreiros, Gondifelos e Fradelos. Deve ser uma manifestação imponente a Jesus Sacramentado.

Recolhida a procissão, haverá no mesmo local sessão de propaganda em prol da família cristã, falando vários oradores. É promovida pela Acção Católica. 10/8/39 - A Voz da Póvoa
 
Na imagem, interior da Igreja Paroquial como o Pe. Pinho a conheceu e como era quando a Beata a frequentava, cantava no coro e ensinava catequese. Foi grande pena que tivesse sido alterada.

domingo, 24 de novembro de 2013

Marias dos Sacrários-Calvários

Temos connosco os 12 números da revistinha Mensageiro Eucarístico de 1934. Era seu proprietário, director e editor o Padre Abílio Gomes Correia. Não nos vamos pronunciar sobre esta publicação, pois isso obrigar-nos-ia a estudá-la e a recolher informação sobre o seu director, coisas que não estão ao nosso alcance.
Aos pés da cama da Alexandrina, em cima, vê-se uma representação em relevo do Calvário, que documenta a sua inscrição na associação das Marias dos Sacrários-Calvários, de que o Mensageiro Eucarístico era o órgão promotor. É como um pequeno oratório e, se não erramos, remonta a 1934. Quantas vezes ela o fixaria ao padecer a Paixão!
A Beata Alexandrina teve direito à celebração de uma missa mensal no quarto em razão de integrar esta associação, como consta de um documento com a assinatura do secretário do Arcebispo, Pe. Sebastião Cruz, com data de 12 de Novembro de 1952.


De cima para baixo:
Oratório das Marias dos Sacrários-Calvários da Alexandrina, que pensamos que remonta a 1934.
Capa dum número da revista Mensageiro Eucarístico de Outubro de 1934.
Uma ilustração da mesma revista.

Reunião da Liaba

Na reunião da Liaba de hoje, começámos pelas notícias. A algumas que já se encontram neste blogue, acrescentámos que a Bernadette Bevans, a criadora do DVD sobre Beata Alexandrina (que pode já ter sido visto por muitos milhões de famílias), está a recuperar do mal que recentemente a afectou.

A seguir, após o momento de oração, em que se recorreu ao Sanctus, foi explicada a origem e o sentido deste breve cântico, explicação que se pretendia que conduzisse ao Hino aos Sacrários. Este foi explicado e confrontado com o Cântico do Irmão Sol de S. Francisco de Assis e com o bíblico Benedicite. Nas três orações há a convocação de toda a criação para o louvor a Deus. Leram-se ainda os poemas O Tudo desceu ao nada e Só por Amor!
Sobre o Hino aos Sacrários, foi comentada esta breve análise literária:
Considerando os hábitos dos poetas contemporâneos, este hino é um poema longo; desenvolve-se em prosa, sem recurso ao verso ou à metáfora.
Um dos aspectos que opõe a poesia à prosa é a aceitação da repetição: isto é, a poesia acolhe a repetição (idêntico número de sílabas no verso, consequente semelhança do ritmo deles e rima são processos de repetição) num grau que a prosa recusa.
Mas, como o Hino aos Sacrários não tem verso, que é se repete?
Ele apresenta processos de repetição bem evidentes: a anáfora, a enumeração, o paralelismo e uma espécie de epístrofe, que pode ser considerada refrão.
O poema compõe-se de duas partes, a do “eu quero” e a de “eu Vos ofereço”: as palavras da anáfora mudam a meio, afastando a sensação de monotonia.
No final há uma recolecção, uma síntese de “tudo”, da oferta que fora feita antes.
A enumeração acumulativa confere-lhe um aspecto de radicalidade, que também está no Benedicite: todo o universo é convocado para o louvor aos Sacrários. A epístrofe acentua-lhe o carácter poético.

quarta-feira, 13 de novembro de 2013

Visualizações de páginas no último mês

Pode ser que algumas pessoas tenham curiosidade em saber de onde vêm os leitores deste blogue e se são muitos ou poucos. Aqui fica a estatística do último mês: 


"Balasarenses"

No site da Lulu está disponível um livro nosso sobre “Balasarenses”. 
Nas 30 e algumas páginas da primeira parte, fala dos Carneiros da Grã-Magriço. A segunda parte tem por título “Outros balasarenses” e trata sucessivamente dos seis vereadores que a freguesia deu à Câmara Municipal (António Fernandes de Sousa Campos, José Domingues Furtado, Manuel Joaquim de Almeida, Manuel Lopes dos Santos Murado, José António de Sousa Ferreira e João Ferreira Gonçalves da Costa), de Manuel da Costa Soares (fundador da Capela da Senhora da Piedade), do Comendador do Maranhão José Pedro dos Santos, do Pe. António Gomes Ferreira (arcipreste e pároco de Terroso); apresenta a seguir a lista dos reitores de Balasar com uma breve informação sobre cada um, aborda depois dois presidentes da Junta (Joaquim António Machado e Lino Araújo) e finaliza com um grupo de balasarenses adoptivos onde constam António José dos Santos (administrador do concelho), Luís Joaquim de Oliveira (o célebre Cirurgião da Bicha), Leonardo Coimbra (o filósofo que datou o prefácio de um seu livro da Quinta de Balasar) e os párocos António Martins de Faria (poeta) e Leopoldino Mateus (jornalista).
No livro quase não está presente a Beata Alexandrina, mas nós já publicámos sobre ela duas obras.

segunda-feira, 11 de novembro de 2013

Livros do juiz de paz de Balasar

Segundo a acta camarária de 10 de Junho de 1837, os distritos do juízo de paz em que se dividia “o concelho (da Póvoa de Varzim) eram cinco, a saber: primeiro, a freguesia de Nossa Senhora da Conceição da vila da Póvoa de Varzim; segundo, Balasar com as anexas Outeiro Maior, Parada e Santagões; terceiro, Rates com a anexa de S. Cristóvão de Rio Mau; quarto, Terroso com sua anexa Laundos; quinto, Nabais com sua anexa Estela”. Mas houve muitas alterações nos distritos dos juízos de paz ao longo dos anos.
Colocamos abaixo as capas dos três livros do juiz de paz do distrito de Balasar. Ostentam todos ao cimo a  palavra Balasar.


sexta-feira, 8 de novembro de 2013

Custódio José da Costa no Juízo de Paz

Conservam-se três livros com conciliações do Juiz de Paz balasarense. Não são muito grandes, mas estão em bom estado.
O primeiro começou em 18 de Maio de 1837, terminou em 7 de Março de 1839 e tem 56 páginas; o segundo começou 9 de Abril de 1839, terminou em 4 de Novembro de 1840 e tem 80 páginas em folhas de papel selado; o terceiro começou em 27 de Novembro de 1840, terminou em 19 de Novembro de 1841 e tem 60 páginas.
As conciliações contidas nestes livros deveram-se a juízes balasarenses e foram escritas por um escrivão também da freguesia, João José Ferreira.
Vêm de tempo bastante próximo da aparição da Santa Cruz e por isso vamos transcrever uma conciliação que fala mesmo na Santa Cruz.
Estava-se em Janeiro de 1840 e Custódio José da Costa andava de mal com a Junta de Paróquia, mas agora iam conciliar-se.
Reuniu-se quase o estado-maior de Balasar: nem faltou o Administrador do Concelho, António José dos Santos. Só não esteve presente o Pároco.
Constam aqui os nomes da mais antiga Junta de Paróquia que se conhece.

Auto de conciliação do autor Custódio José da Costa e réus o Presidente da Junta e mais membros da Junta de Paróquia, todos desta mesma freguesia de Balasar.

Ano do nascimento de Nosso Senhor Jesus Cristo de mil e oitocentos e quarenta, aos vinte e oito dias do mês de Janeiro do dito ano, nesta freguesia de Balasar, nas casas de residência de João Gomes, Juiz de Paz desta mesma freguesia de Balasar e suas anexas São Martinho do Outeiro, Parada e Santagões, apareceram presentes Custódio José da Costa desta mesma freguesia de Balasar e José António Furtado, Presidente da Junta, e Custódio Lopes da Silva e José da Costa Reis, todos membros da mesma Junta, para se conciliarem sobre o objecto do seguinte memorial:
Senhor Juiz de Paz, Custódio José da Costa, da freguesia de Balasar, quer chamar a este juízo os membros da Junta de Paróquia da mesma freguesia sobre o exposto seguinte: foi administrador da Capela da Santa Cruz da mesma até ao ano presente (?) de mil oitocentos e trinta e oito em que, no mês de Janeiro, entregou à mesma Junta a dita administração; pelas despesas que faz na dita capela, com as obras que estão pendentes, tem de alcance a seu favor a soma que à vista das contas se lhe (ilegível) despesas que fez na mesma capela das contas que deu à Junta de mil oitocentos e trinta e oito por isso pretende que a referida Junta actual lhe reconheça esta dívida na forma do pagamento, quando não usará de seu direito, pelo que espera mande citar para o dia e hora, pena de revelia. Por isso pede a Vossa Mercê se sirva mandar cumprir, e receberá mercê.
Despacho:
Sim, para o dia vinte e oito do corrente pelas oito horas da manhã.
Balasar, vinte e quatro de Janeiro de mil oitocentos e quarenta. Gomes.
Notifiquei o Presidente e membros da Junta em suas próprias pessoas para o conteúdo neste memorial, que lhe li e do qual lhe dei cópia, sendo testemunhas Manuel José Ferreira e António da Sousa Guimarães, que aqui assinaram, com os citados, e eu João José Ferreira, escrivão do Juiz de Paz, que fiz a citação aos vinte e quatro dias do mês de Janeiro de mil oitocentos e quarenta.
José António Furtado, José da Costa Reis, Custódio Lopes da Silva, Manuel José Ferreira e António de Sousa Guimarães e João José Ferreira.
E ouvindo o referido Juiz de Paz todas as partes e procurando conciliá-las sem empregar meio algum violento ou caviloso, conseguiu que que se conciliassem nos termos seguintes, que conciliaram dois membros da Junta lhe pagarem a conta que o dito autor apresentou, e confirmada pelo Ilustríssimo Senhor Administrador Geral deste Distrito, que é a quantia de duzentos e sessenta e um mil e trezentos réis. E logo no mesmo acto se conciliaram os dois membros da Junta em que se lhe deviam pagar pelos rendimentos da mesma Santa Cruz agora os sessenta e um mil e trezentos réis e que depois, pelos mesmos rendimentos da Santa Cruz, se lhe devia pagar em cada um ano cinquenta mil réis, tudo isto pelos rendimentos da mesma Santa Cruz. E neste mesmo acto o Presidente da mesma Junta se não quis conciliar.
E não passe dúvida as duas linhas à margem que dizem cinquenta mil réis.
E mais declararam que se deve pagar dos rendimentos, como dito fica, havendo livres de despesa precisa, e sujeitando-se cada um às cláusulas referidas e por eles estipuladas se obrigaram reciprocamente a cumpri-las, sendo testemunhas António José dos Santos e Manuel Francisco Malta.
E depois de lido este auto o assinaram com o referido Juiz de Paz e testemunhas. E eu, João José Ferreira, escrivão que o escrevi.
Custódio José da Costa
Gomes (é o Juiz de Paz)
Custódio Lopes da Silva
José da Costa Reis
Presidente (da Junta), José António Furtado
António José dos Santos
Manuel Francisco Malta

João José Ferreira

quarta-feira, 6 de novembro de 2013

A resistência popular ao cisma liberal em Terroso e Rates (1838-1842)

No próximo dia 20, pelas 15 horas, vamos falar no Arquivo Municipal da Póvoa de Varzim sobre “A resistência popular ao cisma liberal em Terroso e Rates (1838-1842)”. A palavra cisma era então usada em dois sentidos opostos: os liberais, de inspiração maçónica, que tinham cortado relações com a Santa Sé, culpavam de cismáticos aqueles que se lhes opunham, aqueles que faziam o possível por obedecer a uma autoridade religiosa legítima.
A partir de certa altura toda a gente em Portugal devia ser cismática: uns porque o eram (os governantes e aqueles que pelo país fora davam seguimento às suas orientações), outros porque assim eram mentirosamente chamados, como está nos documentos de então. Veja-se este:

Administração Geral do Distrito do Porto
1.ª Repartição, n.º 17

Ilustríssimo Sr. Administrador do Concelho da Póvoa de Varzim

Ilustríssimo Senhor
Constando oficialmente nesta Administração Geral que na freguesia de Santa Maria de Terroso, desse Concelho, grassa escandalosamente o cisma, e até se celebraram Sacrifícios e fizeram Baptismos em casas particulares, ordena S. Ex.cia o Sr. Administrador Geral que V. Senhoria proceda à captura daqueles que forem achados em flagrante e a todas as mais diligências que lhe foram ordenadas na circular n.º 23 por esta Repartição, de 15 de Março deste ano, empregando sempre a maior vigilância para não progredir tão grave mal.
Por esta ocasião, manda o mesmo Senhor lembrar a V. Senhoria o cumprimento do ofício confidencial que lhe foi dirigido em 15 deste mês.
Deus guarde V. Senhoria.

Secretaria da Administração Geral do Porto, 29 de Maio de 1838.
António Luís de Abreu, Secretário-geral.

Recorde-se que estamos a 6 anos da aparição da Santa Cruz.

Os “sacrifícios” celebrados em casas particulares referem-se sem dúvida à Eucaristia.

terça-feira, 5 de novembro de 2013

Um estranho livro

Um destes dias indicaram-nos um trabalho de Alfredo Pimenta saído no seu Terceiro Livro de Estudos Filosóficos (Livraria Cruz, Braga, 1958) sob o título de “Abscôndita”. Uma referência ainda que breve ao livro Abscôndita: diário da Irmã Inês do Coração de Maria, da Congregação de S. José de Cluny nos estudos da Beata Alexandrina parece-nos inevitável. E nós já a tínhamos publicado aqui, por exemplo. O director espiritual da Irmã Inês, o Pe. José de Oliveira Dias, SJ, era amigo do P.e Mariano Pinho e conheceu bem a Alexandrina, a quem visitou até num delicado momento, o da primeira morte mística.
O que não sabíamos é que este estranho livro, de que chegámos a possuir um exemplar, que demos ao Pe. Francisco, tinha sido colocado no Índex, o “Índice dos Livros Proibidos”. Mas foi. Confirme-se aqui. Numa página em inglês, chega-se a escrever sobre ele: Explicitly contradicts Catholic faith or morals, or is directed against the Church ("contradiz explicitamente a Fé Católica ou a moral ou é dirigido contra a Igreja"). Que terrível condenação!
Nós lemos a Abscôndita e não recordamos nada que justificasse estas enormidades. Quando muito, poder-se-ia admitir que a Irmã Inês fora uma iludida e que o seu director falhara ao não a esclarecer devidamente. Contra a Fé Católica, a moral ou contra a Igreja, pensamos que não há lá nada. E o livro chegou a receber rasgados elogios de gente muito conceituada.
O escrito de Alfredo Pimenta pareceu-nos de valor quase nulo: de mística devia saber pouco.
Quando um dia se iniciar o processo de beatificação e canonização do Pe. Mariano Pinho, no mínimo, será conveniente reler algum relatório que exista e que conduziu à inclusão da Abscôndita no Índex, registada no Osservatore Romano de 17 de Março de 1950. 
O Pe. José de Oliveira Dias também foi mandado para o Brasil, como o P.e Pinho… e tomou muito a mal a ordem recebida, segundo nos disseram. 
Na Autobiografia, contando o que se passou na sua primeira morte mística, a Beata escreveu: "O Sr. Pe. Dr. Oliveira Dias pareceu-me um anjo que veio do do Céu serenar a tempestade da minha alma". O P.e Mariano Pinho transcreve esta frase em Uma Vítima da Eucaristia e em No Calvário de Balasar.

domingo, 27 de outubro de 2013

Reunião da Liaba

Na reunião da Liaba de hoje voltámos ao tema da Santa Cruz para falar do momento religioso e político que se viveu antes e depois da aparição, nomeadamente do cisma que se abateu então em Portugal sobre a Igreja, das figuras mais destacadas do cisma no Arciprestado de Vila do Conde, das expulsões de párocos que então ocorreram (metade foram suspensos ou expulsos), do que se passou em concreto na área da palestra de São Simão da Junqueira (a que Balasar pertencia), etc. Um vendaval sacudiu a diocese desde os alicerces e a Santa Cruz, na sua humildade, era uma luz que brilhava na escuridão.
Lembre-se que o poder político cortou então relações  com a Santa Sé, colocou à frente das dioceses eclesiásticos da sua confiança, fechou os seminários e extinguiu as ordens religiosas.

segunda-feira, 21 de outubro de 2013

Um belíssimo diálogo entre Jesus e a Alexandrina

O diálogo entre Jesus e a Alexandrina que se coloca abaixo decorreu em 2 de Março de 1945, depois de esta reviver a Paixão. É belíssimo. Repare-se também no que Jesus anuncia para o futuro, pois contém um especial motivo de esperança.
 - Minha filha, sol da terra, fogo dos corações, honra e alegria do Céu!
Sol que, com os seus raios brilhantes, aqueces e iluminas toda a humanidade!
Fogo que abrasas e purificas os corações! (sic)
Honra e alegria do Céu, porque, ao ver a tua dor, ao ver o teu martírio, que já lá está escrito agora e por toda a eternidade, alegra-me, honra-me, glorifica-me.
Todo o Céu bendiz o meu santo nome pela vítima imolada, pela vida das vidas, pela vítima das almas.Vim do Céu, minha filha, desci do meu trono divino, vim ao meu palácio, ao meu céu da terra, subi ao trono da minha rainha. Venho da minha glória desabafar contigo as minhas mágoas.
Diz-me, amada minha, queres consolar-me? Queres alegrar o meu divino Coração tão triste? Queres dar-me tudo até a consolação que de Mim devias receber?
Fala-me, fala-me com a tua língua de ouro, o teu coração de fogo.
- Jesus, que me pedireis que eu não Vos dê? Conto sempre com a vossa graça para com ela poder sofrer tudo e dar-Vos tudo o que de mim desejais.
Viva eu sempre na tristeza e na amargura, para Vós, meu Jesus, viverdes só na consolação e na alegria!
- Ó meu anjo da terra, tu falas aqui e o que tu dizes escrevem os anjos no Céu a letras de oiro e pedras preciosas.
Vê o mundo, vê o lodo, vê a lama. A maldade que vai por aí!
Olha como sofre o meu divino Coração. Olha como está ferido.
Já que de tão boa vontade, tão alegremente dás tudo, privo-te da minha alegria, da minha consolação, assim como te privei da consolação e alegria daqueles que te são queridos.
Só receberás o meu conforto para poderes sofrer, para poderes vencer.
Só receberás espinhos, de todos os lados espinhos: foi a visão que te mostrei.
Viverás entre eles e entre eles expirarás.
A tua alma pura romperá por entre eles, voará ao Céu a arder de amor. É um anjo seráfico que voa à sua pátria.
Os teus espinhos não são espinhos que secam, a tua dor cultiva o terreno desse bosque imenso que eu te mostrei; o teu sangue rega-os; são espinhos que brotam, são espinhos que dão rosas.
Que jardim brilhantíssimo deles vai nascer!
O orvalho que sobre esse jardim cai é orvalho de sangue, é maná celeste que vem abrilhantá-las, conservá-las, dar-lhes a vida.
Tu partes para o Céu, mas a tua graça, as tuas virtudes ficam na terra: é perfume que se estende a toda a humanidade.
Tu partes para a Pátria e ficas comigo na Eucaristia: serás a pombinha eucarística que não abandona o seu ninho.
É como a pombinha e pastorinha das almas que te quero pintar nas portinhas e cortinas dos meus sacrários. Assim o quero, minha filha, rainha do mundo, rainha dos corações.
Quero, minha filha, tenho pressa, muita pressa que a tua vida seja conhecida; o mundo necessita disso.
É por ti, através de ti que eu mostro o meu amor, a minha misericórdia, as ânsias que tenho de ver salvas as almas.
Custa tanto o pai castigar o filho que erra e se revolta contra ele! Como não há-de custar ao meu divino Coração imolar, sacrificar a minha filha amada, a minha vítima inocente?
Vê, ó mundo, a minha loucura e amor por ti!
Aqueles que se opõem à minha divina causa, ao que se passa em ti, opõem-se contra Mim, opõem-se à salvação das almas.
Todo o teu martírio é por meu amor, é por amor às almas.
Depressa, depressa a salvar, pelo que opero em ti, o mundo inteiro.
Quando Jesus dizia isto, dos Seus divinos olhos corriam lágrimas com toda a abundância. Eu disse:
- Meu Jesus, quero sofrer só eu e só eu quero chorar. Deixai-me na amargura, na tristeza infinda e ficai Vós numa alegria e consolação completa.
Jesus deixou de chorar, estreitou-me a Ele fortemente e retirou-se. Eu fiquei abraçada à minha cruz, mergulhada na minha dor. 

sexta-feira, 18 de outubro de 2013

Por Maria a Jesus

Pelo P.e Mariano Pinho

Por Maria a Jesus! É o programa de todos os Con­gregados; é o lema de todos os cristãos, o roteiro seguro de todos os predestinados para a eterni­dade! Atraídos por Maria, deram com Jesus; iluminados por Maria, viram-se iluminados por Jesus; alentados por Maria à contrição, à confiança, encontraram-se no oceano das Misericórdias infinitas de Jesus.
É esta a economia divina de Maria: quer-nos muito, mas para Jesus; busca-nos, se andamos fugidos, mas para nos levar a Jesus; deseja e pede-nos o nosso cora­ção, o nosso amor, mas para que mais amemos a Jesus.
É este também o resultado da nossa devoção a Ma­ria Santíssima, se é sincera, se é ardente, se é ilustrada, se é enfim, devoção verdadeira: per Mariam ad Jesum.
Então há de ser este também o resultado principal de todas as nossas práticas marianas durante o mês de Maio, se forem práticas de verdadeira e sólida devoção a Maria.
Todo este mês deve ser um ir crescendo sempre em luz e calor: luz que nos mostre cada vez mais nítida aos olhos da nossa alma, a imagem infinitamente deslum­brante e dulcíssima de Jesus; calor que nos inflame e transforme em serafins de caridade para com o Amor que não é amado, para com o seu Coração Amantíssimo.
Assim será, se o nosso mês de Maio não se limitar só ao afã de andarmos colhendo pelos prados e cantei­ros as melhores rosas e lírios e açucenas para com elas adornarmos o altar da Virgem Pura: faz bem à alma des­cansar a vista sobre um altar de Maria, aformoseado com gosto, com sobriedade, com mimo, pelas florinhas com que Deus Nosso Senhor dá afinal também mimo e en­canto aos nossos prados: — as florinhas, as estrelas e os olhos dos inocentes, diz um autor, são as únicas lembran­ças que na natureza nos ficaram do Paraíso terreal. — Mas flores só — não são devoção a Maria.
Faz bem ao espírito escutar durante o mês de Maio os cânticos escolhidos e religiosos e dignamente executados em louvor da Mãe da Deus: porém música, tão somente, ainda não é devoção a Maria e o mês de Maio que se limitasse apenas a cantos e flores, não nos levaria a Je­sus por Maria.
O mês de Maio, para dar resultado tem que ser um mês de estudo e de oração. 
Mês de estudo. Estudo em que o Mestre é o Divino Espírito Santo e a potência que mais se aplica é a inteligência informada pela fé; estudo, que melhor lhe chamaremos meditação, desta Obra-prima do Criador, a Virgem Imaculada. Ah! e não bastará um mês, porque também não há de bastar uma eternidade, se queremos penetrar, nas grandezas, nos privilégios, no poder e nas misericórdias de Maria!
Mas por pouco que se medite, se é com reverência e humildade e desejo ardente de conhecer tão boa Mãe, logo a nossa inteligência se arrebatará, ao ver que «nada há mais esplêndido do que Aquela a quem o mesmo Di­vino Esplendor escolheu: quid splendidius ea quam Splendor elegit?» como diz Santo Ambrósio. Logo o nosso coração se sentirá prendado e preso da Sua amabilidade de Mãe do Amor Formoso, de Mãe dos pequeninos, de Mãe de Misericórdia. Em Maria condensou Deus tudo o que fora de Si há de amável, de belo e de bom.
Logo finalmente nos veremos impelidos a trabalhar por nos parecermos com tão acabado modelo: quem ao meditá-la tão bela e perfeita e ao lembrar-se que é sua Mãe, não sentirá desejos de se parecer com ela?
Mas quem não adverte que estudar e chegar pela meditação ao conhecimento de Maria é estudar e conhe­cer a Jesus? Quem não vê que imitá-la a Ela é imitar a Jesus? Maria foi quem melhor se pareceu na terra e quem melhor no céu se parece com Jesus; aproximar-se por isso das perfeições de Nossa Senhora, é caminhar para as perfeições de Jesus: per Mariam ad Jesum.
Depois, o mês de Maio há de ser mês de oração. Já o meditar nas grandezas de Maria é orar: a verda­deira meditação ascética é oração. Mas havemos de orar, louvando-a e por Ela ao Criador, vendo «quão grandes coisas operou em Maria o Todo-poderoso; a nossa alma engrandece ao Senhor, e o nosso espírito exulta em Deus nosso Salvador, ao ver a Bondade com que olhou para a humildade da sua servazinha: magnificat anima mea Do­minum et exultavit spiritus meus in Deo salutari meo: quia respexit humilitatem ancillae suae. E à porfia com todas as gerações a proclamamos Bem-aventurada, bendita entre todas as mulheres, toda bela e Imaculada, glória do nosso povo, alegria dos céus e da terra e advogada dos pecadores.
Orar louvando e orar dando graças a Deus por nos ter outorgado tão boa Mãe e dando graças a Maria por tão plenamente se desempenhar dessa sua missão de Mãe.
Orar ainda pedindo: ele há tanto que pedir! A ora­ção é a maior necessidade do género humano, e é tam­bém a nossa omnipotência: «tudo o que pedirdes em meu nome vos será dado» — dizia Jesus, «pedi e recebe­reis». Ele há tanto que pedir! Então peçamos e rece­beremos: só pedindo e pedindo muito, é que o mês de Maria será para nós o mês de graças e de bênçãos.
Então peçamos e receberemos; peçamos para nós e peçamos para os outros. Peçamos pela Igreja e pelo Papa; pelos Bispos e pelo Clero e pelos Religiosos e Religiosas, peçamos pela pátria, pela sociedade e pela família; peçamos pelos adultos e pela juventude de um e outro sexo; peçamos pela infância: ele há tanto que pe­dir! Mas peçamos e receberemos; vamos com confiança ao trono da graça. Vamos a Jesus por Maria, peçamos a Jesus por Maria. Peçamos a Maria que nos mostre a Jesus, agora, pelo conhecimento cada vez mais claro e o amor mais abrasado e depois deste exílio, face a face, para o gozarmos eternamente no Céu: et Jesum benedictum fructum ventris tui nobis post hoc exilium ostende.
Se assim se passar o nosso mês de Maio, dará o resultado de toda a verdadeira e sólida devoção, especial­mente quando essa devoção é devoção a Maria Santís­sima, que é: aproximar-nos, levar-nos a Jesus: per Ma­riam ad Jesum.
M. Pinho (Maio de 1932)

quinta-feira, 17 de outubro de 2013

A Beata Alexandrina e a Beatificação do P.e Cláudio de la Colombière

Era de esperar que o Mensageiro desse grande realce a S. Margarida Maria Alacoque e ao seu director espiritual, o P.e Cláudio de la Colombiére: com estes é que tinha nascido a devoção da Sagrado Coração.
Em 1929, o P.e Cláudio de la Colombiére foi beatificado e o Mensageiro naturalmente exultou: durante anos (até ao fim de 1932 pelo menos), manteve uma secção sob o título de “Amigos do Sagrado Coração” onde foram publicadas principalmente as biografias do novo beato e da sua dirigida.
Que relação pode ter isto com a Beata Alexandrina?
A secção dos “Amigos do Sagrado Coração” abria com um arranjo pictórico e floral onde se enquadrava, entre outras coisas, o lema “sofrer, calar, amar”. Ora é difícil não estabelecer alguma relação entre este e o convite que a Alexandrina ouviu, repetidas vezes, pelos anos de 1931-1922, asofrer, amar, reparar”.
Quando, em 30 de Julho de 1935, Jesus lhe pede que diligencie para que o mundo seja consagrado a Sua Mãe, evoca S. Margarida.

Assim como pedi a Santa Margarida Maria para ser o mundo consagrado ao meu Divino Coração, assim o peço a ti para que seja consagrado a Ela ( à Sua Mãe) com uma festa solene.

S. Margarida não era uma santa popular. O P.e Pinho tinha adquirido uma imagem dela para a Basílica (ainda muito incompleta) do Sagrado Coração de Jesus e havia outra imagem em Bagunte. Mas não haveria mais nas redondezas.
Não é por isso de modo nenhum de excluir que a Alexandrina conhecesse o nome da santa e algo da sua vida pelo Mensageiro, ainda que indirectamente, isto é, não propriamente por o ler, mas por ouvir falar sobre ele ao tempo da beatificação do hoje S. Cláudio la Colombière.
Imagens: 
Em cima, Beato la Colombière segundo imagem publicada no Mensageiro.
A meio, fragmento duma página do Mensageiro onde se pode ver o lema "sofrer, calar amar".
Em baixo, conjunto escultórico da Basílica do Sagrado Coração de Jesus, na Póvoa de Varzim, que representa uma aparição do Sagrado Coração a S. Margarida Maria Alacoque.

quarta-feira, 16 de outubro de 2013

Palestra sobre a Beata Alexandrina

Amanhã, dia 17, o Eng.º Luís Pizarro de Castro, da LIABA, falará da Beata Alexandrina  na Capela da "Obra de Nossa Senhora da Purificação", na Portela de Sacavém.

terça-feira, 15 de outubro de 2013

Os últimos anos d’O Apóstolo e a Beata Alexandrina - 1

Conheceria a Beata Alexandrina a revista O Apóstolo, que os jesuítas publicavam na Póvoa de Varzim? Ela fornecia informação que parece indispensável para a tomada da extraordinária decisão, ocorrida talvez em 1928, de se oferecer como vítima:

Sem saber como, ofereci-me a Nosso Senhor como vítima, e vinha, desde há muito tempo, a pedir o amor ao sofrimento.

“Sem saber como” deve corresponder a por inspiração, mas ela sabia em que consistia oferecer-se como vítima, o que não era comum.
Ora O Apóstolo, por essa altura, falava mensalmente da reparação e de cristãos que se ofereciam como vítimas pela salvação da humanidade.
Além disso, em Balasar, desde 2 de Julho de 1893 (tempos do P.e Sousa), havia a Associação do Coração de Jesus, o que torna provável que a revista aí fosse conhecida. A Sãozinha, a Deolinda e a Alexandrina foram membros da associação.
Há uma acta da reunião dos Zeladores e Zeladoras da Associação do Sagrado Coração de Jesus, de 1933, a que presidiu o P.e Manuel de Araújo, mas a poucos meses de deixar a paróquia, onde se valoriza a frase evangélica “Deixai vir a Mim as criancinhas!” A reunião foi secretariada pela Prof.ª Maria da Conceição Proença, a Sãozinha.
Ora esta frase não é só uma citação do Evangelho, é também citação da Cruzada, que lhe deu grande destaque na capa de números sucessivos.
Isto quase garante que a Cruzada e certamente o Mensageiro eram recebidos na freguesia, que a Sãozinha os conhecia e que a Alexandrina deles ouviria falar com insistência. Estas revistas sucederam a O Apóstolo e continuaram-no.
Na mesma acta é referido o tema da reparação – da Comunhão reparadora.
Noutra acta encontrámos a expressão deste desejo: “Oh, quem dera que Portugal do século XX fosse o Portugal dos nossos avós! Que costumes tão santos se respeitavam!...
Mas ainda bem que um movimento geral se está operando no sentido de levantar a nossa Pátria!”
Estas frases sintonizam também com o que se vê nas referidas revistas jesuítas.
Bandeira da Associação do Sagrado Coração de Jesus fotografada no Cemitério de Balasar. Esta associação completou 120 anos em Julho de 2013 e foi criada pelo pároco que baptizou a Beata, que está sepultado no jazigo cujo cimo se vê ao lado direito da bandeira.

O que era O Apóstolo?

Os Jesuítas portugueses, após a debandada imposta pela República, que os proscreveu (foram havidos por desnaturalizados e proscritos, e se mandou que fossem expulsos de todo o país e seus domínios "para neles mais não poderem entrar"),  logo que surgiu oportunidade  retomaram a sua obra e as suas publicações. O Apóstolo, surgiu em 1915 e veio tomar o lugar do Mensageiro do Coração de Jesus. Apresentava o subtítulo de “Revista Mensal – Órgão oficial do A. O., da Consagração da Família ao Sagrado Coração de Jesus e da Cruzada Eucarística das Crianças em Portugal”.
Cada número obedecia a uma grelha temática que era bastante comum. Saía com cerca de 50 páginas e considerava-se que os diversos números de um ano eram para encadernar no fim dele, por isso a numeração das páginas não era independente por edição, antes se ia acumulando mês após mês.

Temos connosco a colecção d’O Apóstolo de 1926 e 1927, mais o número de Janeiro de 1928. Em 1929, a revista retomou o título original. 
Capa d’O Apóstolo de Abril de 1926. Repare-se que saía na Póvoa de Varzim.